
INSPIRADO EM MULHERES SÁBIAS
Manas, comadres, amigas – mulheres e homens dessa grande roda da vida…
Concordo que todo dia é dia de celebrar e que para o mundo do consumo, o 08 de Março não passa de um produto.
O verdadeiro significado político, histórico e social desta data, que reconhece a dignidade e autonomia da mulher, se amplia quando acabo de saborear palavras, arrepios, profundas e poderosas singelezas de ser mulher em “A Ciranda das Mulheres Sábias”(Clarissa Pinkola Estés), que me inspira a compartilhar – algumas de suas essencias (do que é essencial), em plena noite de uma segunda-feira gorda de Carnaval…
Nos mitos e lendas, os príncipes costumam ser bons e até maravilhosos, mas quando as jovens estão em apuros, é a velha sábia quem realmente a tira da enrascada. O arquétipo da mulher intimidante, ousada, desafiadora e alegre.
O segredo é conseguir resistir a quaisquer falsidades individuais e coletivas que anulam a visão e a audição da nossa alma, para acessarmos a benção de viver de verdade.
Benção, não como algo que vamos ganhar, mas que já possuímos, o dom que nasceu conosco; nos recordarmos totalmente de quem somos e fazer o melhor uso desse tesouro.
Não importa quanto tempo já vivemos, “a alma de uma mulher é mais velha que o tempo e seu espírito é eternamente jovem…”. Logo, não se trata de números, mas de qualidades: “ser jovem enquanto velha e velha enquanto jovem”. Acessar essa força muito antiga que “sabe” e age de acordo.
Se precisamos de força e visão, que nos lembremos de estar conectadas à alma; se for energia e determinação para agir pelo nosso bem e de todos, que nos conectemos ao espírito e se for sabedoria, que façamos a aliança entre alma e espírito, unindo ação à paixão, ousadia à sabedoria, energia à profundidade e então realizemos o casamento sagrado entre o humano e o divino, por meio do qual ambos se transformam.
Aquela mulher – a sábia, está a nossa espera, enviando pacientemente mensagens por todos os meios, para que escolhamos o que nos faz dançar e não mais andar pesadamente, nem cochilar pelo tempo afora; o que torna maior e mais profundo nosso coração, nossa mente e nossa vida.
Compartilho do sentimento de gratidão:
por aquelas que com todas as suas diversidades, tristezas e talentos continuam altivas;
por aquelas que com o supremo cuidado, se dedicam para que a decência, a vida criativa e o carinho pela alma não despareçam da face da terra;
por aquelas que ensinam a arte de dizer verdades totais com total compaixão;
por aquelas que aprendem e ensinam a chacoalhar os ossos, a balançar o barco – e a cama – além de acalmar as tempestades;
por aquelas que cumprem os rituais, que se lembram dos símbolos, das formas, das palavras, das canções, das danças e do que no passado os ritos tinham o objetivo de instaurar e restaurar;
por aquelas que não têm medo – ou que têm medo – e que agem com eficácia de qualquer modo;
por aquelas que são exemplos vivos do que significa ter ao mesmo tempo um corpo físico e uma alma;
Por todas aquelas em montes sagrados e em cachoeiras, em florestas e templos feitos de terra e lama, ainda capazes de visitar a diminuta catedral rubra do coração.
“Por elas…
Por todas nós,
Grande Avó e Grande Avô
Grande Neto e Grande Neta, da mesma forma…
Que todos nós nos aprofundemos e vicejemos, que criemos a partir das cinzas, que protejamos aquelas artes, idéias e esperanças que não podemos permitir que desapareçam da face da terra.
Por tudo isso, que vivamos muito, e nos amemos uns aos outros, jovens enquanto velhas, e velhas enquanto jovens para todo o sempre.”
*Amém
* Nas línguas antigas – latim, grego e hebraico –Amém significa proclamar direto da alma sábia e indomável: “É verdade! “Assim seja!”
“Quando uma pessoa vive de verdade,todo os outros também vivem”. Outros, inclui companheiros, filhos, parentes, amigos, colegas de trabalho, desconhecidos, animais e flores.
Esse é o principal imperativo da mulher sábia. Viver para que outros também se inspirem.
*Comadre em espanhol é um termo usado para descrever a relação íntima entre mulheres que cuidam, dão ouvidos e ensinam umas às outras