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MULHER COM PÉS DESCALÇOS

Mar 09 2012

MULHER COM PÉS DESCALÇOS

Era uma vez uma menina criativa que andava descalça, pois era muito pobre. Um dia fez seus próprios sapatos com retalhos; simples, mas imaginados por ela mesma, os sapatos lhes davam uma grande força espiritual para tocar a vida.

A menina foi crescendo e pelas circunstâncias do mundo moderno e da realidade consensual, acabou conquistando um sapato da moda.

Na antiguidade os sapatos eram um sinal de autoridade – os governantes os possuíam, os escravos não. Até hoje, se aprende a avaliar o “status” e a capacidade de uma pessoa com base no fato dela estar bem-calçada ou não.

Os pés possibilitam nossa mobilidade, nossa liberdade e os sapatos como uma metáfora, representam a nossa base para defender estas possibilidades. Sendo assim, ter sapatos originais é ter convicção de nossa verdade essencial e ter meios para garantí-la com perspicácia, bom senso, cuidado e firmeza.

É por isso que os sapatos “feitos por nossas próprias mãos” nos dão uma felicidade tamanha. Mesmo que nossa vida expressiva seja ameaçada, se resgatarmos ou nos mantivermos fiéis a nossa alegria básica, estaremos com nossos pés a salvo.

É a alegria de conseguirmos colocar as palavras no papel de um jeito exato; de tirarmos as notas de uma música no nosso tom, de realizamos o passo “daquela” dança, logo de primeira. É quando a mulher descobre que está grávida quando é o que deseja; quando realiza algo que precisou de muita auto-superação. É quando cria, faz artes, luta, movimenta sua vida no agora. Esse é o estado natural e instintivo da mulher – da mulher selvagem.

Uma vida vibrante nos convida a sacrifícios, sim. Se quisermos uma faculdade temos que investir tempo e dinheiro e dedicarmos muita concentração. Se quisermos criar, precisamos sacrificar a superficialidade, alguma segurança e, com freqüência, o desejo de sermos apreciadas, para deixar vir à tona os insights mais fortes e as visões mais amplas. Essa é a conscientização que compõe a natureza essencial – a natureza selvagem.

Podemos ser gentis e até nos abrimos a grupos aos quais não pertencemos, mas sem nos esforçarmos demais; sem acreditarmos demais que contendo todos os impulsos e contrações da criatura selvagem, ficaremos felizes. Passar por damas educadas, recatadas, contidas e reprimidas é o tipo de atitude do ego, querendo integrar-se a todo custo. Aí em vez de uma mulher vital, temos uma mulher simpática, bem comportada, com boas intenções, mas nervosa e ofegante no anseio de ser boa – do tipo que destrói o vínculo com a mulher selvagem, pois foram arrancadas suas “garras”.

Se perdemos nossos sapatos originais; perdemos nossos pés – nossa vitalidade e a vida que projetamos para nós mesmas, pois adotamos uma vida excessivamente domesticada. Perdemos a plataforma sobre a qual ancoramos a nossa base – nossa natureza instintual que sustenta a nossa liberdade…

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