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11.11.11

Nov 11 2011

11.11.11

Déa S Melo
Nov2011
Na Ilha de Maindeua, está a pequena comunidade de Fortalezinha, município de Maracanã – Pará –Amazônia – Brasil; onde o único transporte terrestre ainda é a carroça. Ali, fazer a roda girar em 11 de 11 de 2011, com a presença dos Mestres da cultura popular de Maracanã/PA, Pedro de Assis (Papo Fundo) e
Manoel Roque (Roque Santeiro); da marajoara Ionete Gama (Dona Onete), pessoas da comunidade e da capital paraense, fez todo o sentido para o que estava previsto para esse dia.

Espiritualistas de várias tradições no mundo, anunciavam esta data, para a abertura de um grande portal para a mudança de consciência no planeta Terra, rumo à paz. Nesta ilha de pescadores, se tem a impressão que esse portal está aberto desde sempre. É um daqueles lugares, onde as coisas se movem numa dinâmica diferente; é fácil enxergar beleza em quase tudo. Entramos na calma das horas que custam a passar, sentimos a expansão do nosso centro cardíaco e podemos experimentar o sentimento de unidade consigo e com o outro.

A mestra natureza começa o dia explicando o que é esse portal logo ao amanhecer. O nascer do Sol, se levanta do mar, mas começa a se revelar muito antes, bem no meio do céu transitando entre o índigo da noite, o alaranjado da madrugada e o azul da manhã. Depois os mistérios da noite ficam por conta da Deusa Lua de um dourado tamanho, vista num lapso de simultaneidade com o Sol – ambos na mesma extensão; tão perto da gente, que é quase possível tocá-la. A “aulaespetáculo”, acontece todos os dias, mas poucos, muito de nós criamos tempo e oportunidade para participar.

As aulas seguem com os mestres e a mestra de tradição da cultura popular. Eles cantam, contam histórias, falam na linguagem cabocla, com a expressão profunda de uma vida que emana autenticidade e integridade. As composições de carimbós, bangüês, lundus e folias; os toques e ritmos de tambores, maracas e banjos, ensinam com especial sabedoria e beleza sobre amor; pensamentos e
sentimentos livres de rivalidades e mágoas que só criam separação.

Vou me embora, vou me embora
Segunda-feira que vem
Quem não me conhece chora
Muito mais quem me quer bem
Mestre Pedro,67

Tem que ser um amor brejeiro
Feiticeiro e carinhoso
Que seja impetuoso
Que faça ferver meu sangue
Só amor me satisfaz
Que me leve à loucura
Que me dê um algo mais
Tem que ser brasileiro, bonito –
nortista, brejeiro
Dona Onete, 72

Eu vou me embora pra minha terra
Pra minha terra donde nasci
Adeus menina bonita
Não sei quando volto aqui
Ai, ai minha terra
Ai, ai meu lugar
Morena me dá um beijo
Não sei quando hei de voltar
Mestre Roque, 69

Nessa escola, a sala de aula é o quintal do Tio Milico e é preciso dançar. Tem fogueira acesa; rede de pesca orientando espacialmente o centro da roda e sustentando instrumentos pedagógicos de como o alguidar com o banho de ervas perfumosas, a fartura das frutas no croatá e uma mostra do imaginário de tradições movemos nessa roda como uma onda na consciência da unidade, na conjunção com astros e estrelas e na construção de alianças entre pessoas, somando singularidades e respeitando diferenças, criativamente.

Pudemos conferir que o conteúdo e potencia transformadora dessas aulas, está em cada um dos elementos e integrante do círculo. A olhos nus talvez nada mudou, mas com os olhos “meuan” – o dom de enxergar e entender além do senso comum, como ensinam os caboclos da região; temos a íntima certeza que cada passo que demos nessa Dança, abriu portas e portais para vivermos nessa
“Terra Sem Males”, como sempre acreditaram os Guarani.

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