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A AMAZÔNIA E AS DANÇAS CIRCULARES

Mai 10 2008

A AMAZÔNIA E AS DANÇAS CIRCULARES

Cerca de vinte milhões de brasileiras e brasileiros são amazônidas – ribeirinhos, caboclos, negros,indígenas que formamos as nove unidades federativas do Norte do Brasil. Só na Amazônia paraense, os números oficiais dão conta de aproximadamente quarenta povos indígenas. Os negros, segundo o censo do IBGE no ano de 2000, representam 73% na Amazônia Brasileira, perdendo apenas para a Bahia e Maranhão.

O terapeuta junguiano, Roberto Gambini, reflete com muita propriedade, que o Brasil ainda que com toda sua diversidade e fortes identidades é como um adolescente inseguro, que sofre com a indefinição dessa identidade. Impressiona-se profundamente com o olhar do “outro”, sem se dar conta que seu grande ventre é indígena, daí a valorização exacerbada do estrangeiro. Trata-se de um pai branco supervalorizado, mas ausente e uma mãe indígena rejeitada e esquecida, anterior à mãe negra, que de alguma forma faz parte de nosso imaginário. A mãe indígena, que se juntava ao branco, era batizada e perdia o vínculo com sua tribo. A identificação com essa mãe seria como aceitar a cultura dos vencidos, muito mais do que aceitar a mãe negra.

“Queremos, reconhecer em nós este ser indígena, negro, caboclo, doutorado nas ciências, nas artes, na filosofia e na espiritualidade desta região. E estabelecer relações amorosas entre todos os povos”. R.Gambini

A cultura própria de um povo, não deve ser reduzida a um conjunto amplo de tradições, comumente identificadas com o folclore, mas sim considerar sua ação histórico-social, resultante de uma criação, na busca de compreender a vida desse povo, afirmar sua identidade, reproduzir seus valores e avançar no processo de transformação social.

O conflito entre os saberes tradicionais e saberes científicos, também diz respeito ao conflito entre tempo e espaço, entre céu (espiritualidade) e terra (desenvolvimento; meio ambiente). A sobrevivência da espécie humana sempre dependeu da relação equilibrada com essas dimensões. E na Amazônia, essas polaridades são muito instigantes, onde a vida visível, material, convive cotidianamente com as encantarias, com os deuses, mitos e lendas das crenças indígenas e caboclas – encantados e personagens do imaginário amazônico. A oralidade caracteriza a sociedade regional e traduz a força popular, ao mesmo tempo em que a água é o elemento de ligação de tudo, em todos os níveis – concreto e abstrato. Afinal, a água doce é a verdadeira água mítica. Aqui, o regionalismo é uma fonte de linguagem universal e não restritiva.

Uma região que é  berço de danças alegres, fervorosas e convidativas, marcadas por rituais e rufar de tambores rústicos. Portanto, dançar as matrizes indígenas e africanas do e no Brasil não é apenas um caminho para conhecer e re-conhecer o “outro” o “diferente”, mas implica conduzir às indagações e reflexões sobre a sociedade em que vivemos e o próprio jeito de ser de cada um-a, para ter uma auto-estima elevada, vendo o estrangeiro não mais como “superior” e sim como irmão – manos e manas.

São os povos indígenas, os verdadeiros conquistadores da Amazônia, auxiliados pelos portugueses e não ao contrário como diz a história oficial.

Pássaros nos ensinaram a pescar e velejar; a tecer e fazer rede de dormir à imitação de ninhos nos altos das árvores; as palafitas provavelmente foram inventadas pelos índios Mayé na costa do Amapá, vivendo na copa da vegetação de mangues.

Marimbondos foram os mestres da cerâmica, ensinando homens e mulheres a trabalharem o barro e a criar ritos; e através de civilizações muito antigas e ricas como os Marajoara e Tapajônicos, nos oferecem um legado artístico e antropológico únicos no mundo.

A raiz da mandioca, fonte de alimento fundamental para as antigas civilizações e ainda hoje, para toda a Amazônia; dela se extrai a farinha, o tucupi e uma diversidade de pratos e quitutes. E segundo Eduardo Bueno, no livro Pau Brasil, provavelmente a mandioca foi descoberta e domesticada nesta região, pelos Tupis.

Os indígenas acreditam que o corpo guarda a energia primordial ancestral. Na alma ancestral vivificada tudo flui. O contrário limita. Não podemos separar o corpo que trabalha e peleja da sua alma, que almeja o direito à preguiça, à arte, à dança…O segredo da dança está no que não é visto a olho nu, está no imaginário, na percepção do próprio corpo – no seu movimento interno, nas sensações.

O corpo possui a memória de toda nossa história pessoal, por isso através das danças, mudando o movimento, muda-se essa memória, muda-se uma VIDA! DANCEMOS!!!!!!

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