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COMUNICAÇÃO EM MOVIMENTO

Nov 10 2007

COMUNICAÇÃO EM MOVIMENTO

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar, vamos dar a meia volta, volta e meia vamos dar… A mensagem é clara, e o convite também. É hora de fazer ciranda, de dançar de mãos dadas, de alegrar a alma, de virar criança. A roda está aberta para quem quiser participar.

Há cerca de dois meses, os funcionários do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), em Belém (PA), vêm participando de uma experiência que foge à rotina diária de qualquer instituição pública do país. São as “Danças Circulares dos Povos” ou “Danças Circulares Sagradas”, que estão sendo praticadas, uma vez por semana, pelos servidores do Goeldi interessados em melhorar a sua qualidade de vida e do ambiente onde trabalham.

Compostas por danças de roda, tradicionais e contemporâneas, de diferentes culturas e países, que são vivenciadas como um instrumento de educação, cultura, comunicação, autoconhecimento e integração, as danças circulares contribuem para reduzir o estresse do dia-a-dia, para alimentar a alma e estimular a criatividade dos praticantes. 

No Museu Goeldi, a prática das danças circulares acontece toda quarta-feira, pela manhã, das 8h30 às 9h30, no Parque Zoobotânico, e à tarde, das 16 às 17 horas, no Campus de Pesquisa. O objetivo não é apenas aprender a dançar corretamente e se tornar um exímio dançarino, mas propiciar um momento de auto-conhecimento e de interação com os colegas de trabalho, respeitando as diferenças e os ritmos de cada um. “Cada pessoa tem uma forma própria, peculiar de executar os passos e os gestos das danças”, explica a focalizadora Déa Santos Melo, da ONG Mana-Maní, responsável pela atividade no Goeldi.

Formada em jornalismo e publicidade, Déa Melo entende a Comunicação como uma forma sistêmica e orgânica, um direito fundamental do ser humano; construída a partir das pessoas, das organizações, das instituições. Para ela, as danças circulares sintetizam, na prática, tudo que aprendeu tanto na academia, quanto na educação  não formal e informal, sobre Comunicação, Educação e Valores Humanos,  “As danças despertam a consciência sobre mim mesma, pois falam do “eu” – integralmente, explica. “A dança também me ensina sobre os povos, pois quando as pratico, me conecto com o seu jeito de ser, de viver e de saber; e quando esse povo faz parte de minha própria ancestralidade, trago uma expressão de minha própria alma, (re) descobrindo dons, talentos, potencialidades adormecidas ou não reconhecidas por mim mesma”.

Segundo Déa Melo, as danças circulares facilitam a emergência dos valores humanos, através do respeito à diversidade cultural e do incentivo a uma cultura de paz. Valoriza as identidades culturais brasileiras e amazônicas, cujas danças sagradas vem pesquisando e vivenciando nas comunidades tradicionais, há mais de cinco anos. “Esse encontro é maravilhoso, pois me permite acolher a diferença, valorizando o que é do outro e oq eu é meu, nas mesmas condições.

A atividade integra o “Programa de Comunic-Ação Criativa”, idealizado e desenvolvido por Déa, com o objetivo de facilitar a construção de uma Comunicação Criativa, que valorize não apenas a razão, mas também a dimensão emocional e psíquica do SER.  “Os nossos modelos ocidentais de educação e de trabalho de um modo geral, privilegiam a razão, em detrimento de outros canais de apreensão e expressão da realidade, como a afetividade, o imaginário, a espiritualidade e o próprio corpo – que são a nossa totalidade. Na roda trabalhamos todas essas dimensões, consciente ou inconscientemente”.

A idéia é garantir um espaço de desenvolvimento criativo consigo mesmo, com o outro e com o ambiente. “O programa, que está sendo desenvolvido, é uma metodologia, ao mesmo tempo, tão antiga quanto vanguarda, pois utiliza instrumentos que dizem respeito à natureza humana,que é absolutamente circular.São danças, cantos, ritmos e saberes que sempre estiveram presentes na formação dos povos tradicionais, desde o nascimento,  até a morte, que foram se perdendo com a revolução industrial e tecnológica. “A educação e a Comunicação Social, que é o meu foco, são tratadas atualmente, apenas no âmbito instrumental, utilitário”, observa Déa.

Benefícios – Em apenas dois meses, várias danças já foram vivenciadas pelos funcionários do Goeldi, como cantigas de roda, cirandas, torés indígenas, africanas, amazônidas, além de danças da Grécia, Romênia, Hungria, entre outras. A ação é complementada com práticas de alongamento e técnicas de respiração, de automassagem e de visualização criativa, além da partilha da experiência vivenciada pelos participantes. Em geral, a atividade é construída a partir de uma temática, a cada vivência como, Estilo de Vida e Saúde Integral; Acertos e Erros – Experiências Sempre Bem-vindas nas Danças Circulares; O Corpo Como um Sistema; A Unidade na Diversidade; entre outros.

Além de despertar a consciência corporal, através da coordenação motora, do ritmo, da sintonia e da flexibilidade, as danças circulares contribuem também, para a melhoria da auto-estima, da harmonia entre corpo-mente-espírito, e da ampliação do potencial humano a partir da conexão com o sagrado e da vivência da arte, do lúdico, do belo, do prazer e da alegria. A aprendizagem criativa, o desenvolvimento da inteligência integral e a expansão de habilidades, como a intuição, o imaginário, a sensibilidade e o corpo, no processo de receber e transmitir conhecimentos, são outros benefícios resultantes dessa prática.

A prática das danças circulares também contribui para desenvolver, seja no lar ou no ambiente de trabalho, uma atmosfera propícia à cooperação e à resolução de conflitos. “Dançar em círculo, de mãos dadas, ou seja, com o outro, colocando não só o corpo, mas a alma em movimento, revela-me a mim mesmo. Quando posso conhecer a mim, posso conhecer o outro, o que me permite encontrar novos caminhos e possibilidades, a facilitar a sinergia, a unidade na diversidade; ou a reconhecer, na adversidade e na diferença, um grande trunfo, para compreender a diversidade e chegar à criatividade”, explica.

Liderança – A focalizadora explica que o processo de resolução de conflitos utiliza as aptidões de cada um e constrói relacionamentos mais duradouros e gratificantes. “Combinando os atributos do princípio feminino – paciência, empatia e receptividade – com os atributos do princípio masculino – determinação, coragem e ação positiva – o líder reconcilia os opostos dentro de si mesmo, desenvolve seu poder de conciliação com o outro e avança com segurança”, afirma.

O Programa de Comunic-Ação Criativa também trabalha com o conceito de liderança circular, como um dos elementos essenciais para a criação de uma atmosfera de associação e de cooperação dentro de um determinado grupo. Na liderança circular o poder acontece “através de alguém” e não como “pertencente a alguém” ou seja, qualquer um pode ser líder em determinada situação. Além disso, os conflitos e dificuldades, são encarados como aliados para a autosuperação e o desenvolvimento criativo.

No contexto da Liderança Circular, as pessoas são incentivadas a resgatar sua conexão com a natureza, sua intuição e poder pessoal, bem como a valorizar suas raízes, sua origem, espiritualidade e potencialidades. A liderança circular não se. “Podemos ser líderes em várias situações e a todo instante somos convidados a assumir essa liderança”.

Naturalmente um programa como esse,  estimula a vivência de uma “Cultura de Paz”. “Se facilitarmos a paz em nós mesmas, podemos propiciar a paz no mundo. Há uma interpenetração do individual e do social. Quando de fato me preocupo com a sociedade, me transformo”.

Texto: Maria Lúcia Morais, Agência Museu Goeldi. Novembro/2007

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