Buscar

LENDA DA MATINTA PERERA

Dez 22 2008

LENDA DA MATINTA PERERA

Matintaperera, Matinta Pereira, Mati-Taperê, Mat-taperê, Matim-Taperê, Titinta-Pereira. No Pará e na Amazônia como um todo, ela pode ser conhecida e aparecer de formas diferentes de acordo com o lugar. O mais comum, no entanto é ser visualizada como uma velha acompanhada de um pássaro, conhecido como rasga-mortalha, que sai à noite emitindo um som agudo e assustador.

     Quando os assobios do pássaro começam a incomodar, alguém promete em voz alta, tabaco e às vezes até alimento, para que a Matinta silencie. No dia seguinte, aparece uma velha, para buscar o fumo prometido na noite anterior.Se a pessoa não cumprir o prometido, será atormentada insistentemente pela Matinta

     Uma mulher idosa do lugar, carregaria a sina de “virar” Matintaperera, transformando-se num ser que mete medo e assombra as pessoas. A que tem asas, se transforma no pássaro. A que não tem, anda sempre acompanhada dele – o rasga-mortalha.

     Quando a velha, que vira Matinta, está pra morrer, anda perguntando em voz alta: – Quem quer, Quem quer? E se alguém, principalmente se for mulher, responder – “eu quero” – pensando se tratar da doação de algum bem, como dinheiro, jóias, etc, herda o encanto, assumindo o lugar da que morreu.

     Conta-se também que há fórmulas mágicas para aprisionar a Matintaperera. Uma delas é feita com uma tesoura virgem, uma chave e um terço. Á meia noite, deve-se abrir a tesoura, enterrar, colocar no meio a chave e por cima o terço. Em seguida, fazer orações especiais, para a Matinta ficar presa, sem poder sair para assombrar os outros.

     Suindara ou Coruja-da-torre (Tyto alba)

     Características Gerais

     Diversas aves que apresentam hábitos noturnos, como as corujas e bacuraus são discriminadas como portadoras de azar, sendo desprezadas e até mortas. São alvos de perseguição, porém são muito úteis, porque se alimentam de animais que se reproduzem com muita intensidade e podem prejudicar a saúde humana, como alguns insetos, ratos e morcegos.

     Uma das corujas que mais sofre discriminação na região amazônica é a suindara ou coruja-da-torre, que possui esse nome porque constrói seu ninho, preferencialmente, em torres de igrejas ou forros de casas.

     A suindara caracteriza-se por apresentar a plumagem amarela-escura e em sua face esbranquiçada possuir uma coroa de plumas em forma de coração. Vive solitária em áreas abertas e próximas das cidades, emitindo um grito bem forte quando está voando. Tem preferência pelas caçadas noturnas, porém pode ser avistada ao entardecer. Alimenta-se de ratos, morcegos, lagartos e pequenos pássaros. Quando voa, emite um grito que assusta os mais medrosos.   

Fontes: Walcyr Minteiro e Projeto Clube do Pesquisador Mirim do Museu Emílio Goeldi

Pensando bem…

A amazônica Matinta, de repente pode prestar um bom serviço à humanidade, com seus gritos assustadores…

Nada como os mitos, as lendas, os símbolos, as metáforas, as histórias para falarem da vida e do viver de uma forma mais consciente.

Que tal, acolher a possibilidade dos gritos que assustam, não serem da Matinta, mas do próprio inconsciente, do lado escuro, das dificuldades pessoais não conhecidas ou não aceitas?

E para não encarar o medo, busca-se alternativas…e até barganhas – prometer um pouco de “tabaco”, ou seja, uma distração, um prazer passageiro qualquer, para que esse grito se cale, o medo se recolha, para que o incômodo silencie e não se escute mais, a “bendita” Matinta, que poderia ser a chamada voz da consciência ou sexto sentido, chamando, gritando, despertando, para um olhar interno mais atento, para as próprias limitações, que no fundo querem fazer recordar (lembrar com o coração) a humanidade das pessoas, quase reduzidas a máquinas produtoras e reprodutoras, na atualidade.

Crianças indígenas, aprendem desde cedo a respeitar os Espaços Sagrados. Esta prática de compreender que outras formas de vida, também possuem seu espaço e que têm uma missão especial a cumprir em sua caminhada na Terra é o que faz a diferença no modo de se relacionar com o mundo. Tanto, que elas também são encorajadas a descobrir seu lugar favorito, que seja só seu e onde possam ficar sozinhas de vez em quando. Assim aprendem a fazer escolhas próprias e ter prazer na companhia de seu ser interno.

Cada centímetro da Mãe-Terra é o lar de alguma forma de vida. Sempre que saímos de nosso próprio espaço, tornamo-nos hóspedes de algum espaço alheio. Precisamos primeiro limpar nossos Espaços Sagrados pessoais, para aprendermos a respeitar o dos outros.

E aí podemos pensar que a Matinta não está fora, mas dentro de nós; que ela não quer nos assustar, mas nos despertar; que o tabaco é uma oferenda sagrada e não uma barganha, para despacharmos aquilo que nos incomoda e que nunca tem nada a ver com a gente; e que enfim, não adianta apenas prometer a oferenda – terá que ser paga, porque a cobrança vem bater à porta em busca do prometido, no dia seguinte.

Vale lembrar que as fórmulas mágicas para aprisionar a Matinta e fazê-la “calar-se para sempre, podem ser bem menos eficazes do que oferecer o tabaco. Este é o “alimento” que a satisfaz, que vai fazê-la silenciar naturalmente, porque seria enfim, o cuidado e a atenção que ela tanto espera de nós para nós mesmos – as, já que a prisão como o nome já diz , nada mais é do que a castração do direito à liberdade, ou seja à CONSCIÊNCIA.

E quem garante, até quando ELA ficará presa? Deve ser por isso que a Matintapera assusta tanto.

0 Comentários
Compartilhar
Sem Comentários

Comentar