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O CAMINHO DA DANÇA PELA COMUNIC-AÇÃO PLANALTO x VÁRZEA, UM CASAMENTO NECESSÁRIO

Nov 22 2007

O CAMINHO DA DANÇA PELA COMUNIC-AÇÃO PLANALTO x VÁRZEA, UM CASAMENTO NECESSÁRIO

Mapa não é território, ensinam os neurolinguistas. De fato, nada é capaz de comunicar, sinalizar verdadeiramente um lugar, do que estar nesse lugar, viver a experiência de corpo e alma.

A Amazônia, com toda sua diversidade cada vez mais falada, escrita, pesquisada e cobiçada em nossos dias, ainda está longe, muito longe de ser entendida e atendida em suas necessidades de preservação, contemplação e desenvolvimento à serviço de uma Cultura de Paz.

Com cinco anos por esses caminhos, durante mais uma jornada de dez dias em comunidades remanescentes de quilombos no Oeste do Pará – Santarém, pude vivenciar novamente a realidade de nossos povos tradicionais, como quem pega o caminho da floresta ou do rio, com a única certeza de que é preciso seguir, contando não só com as orientações do mapa, mas principalmente com  a licença das curupiras, matintas-pereras, mães d’água, botos e tantos outros encantados vivos e atuantes no imaginário e no cotidiano dessa gente.

Um ambiente de beleza e de carências; de sedução e de medo; de tradição e mistério; de símbolos e arquétipos – onde embora estejamos na planície amazônica, se fala em planaltos, platôs.Uma região que no passado foi uma aldeia indígena

Onde marimbondos constroem suas casas em mutirão e o homem também, a partir do que a terra dá…Assim é MURUMURU, uma comunidade de 120 famílias remanescente de quilombo, em Terra Firme/Planalto, a cerca de 40 km da cidade de Santarém,

o segundo maior município do Estado do Pará. Aqui, logo ao nascer é na rede que os bebês reencontram a paz que usufruíam

no útero materno; e são das benzedeiras que essas mães e filhos, recebem os primeiros cuidados de um pós-parto.

E por isso nós dançamos! Dançamos pra que essa vida cooperativa, prenhe de valores humanos, criatividade e absolutamente circular ganhe expressão, comunicação e seja sustentada em nossos dias.

Afinal, são esses pés, rostos, corpos e almas que dão espaço, tempo, forma e referência ao que é central na roda de uma dança tradicional,que traz na sua matriz  a memória do bem viver.

Conto de um lugar onde a energia elétrica chegou não tem nem três meses e os brinquedos cantados ainda são capazes de envolver rapidamente não só crianças, mas jovens, adultos, e naturalmente os “velhos” sábios que basta entrarem na roda, para assumirem o lugar que honradamente merecem – o de mestres.

Os mestres e sábias das comunidades conquistam tanto a atenção, como a escuta amorosa e a motivação de seus descendestes e possíveis sucessores, se assim os honramos nas escolas, no município, na cidade, na região, no país; nos meios de comunicação. E começarmos com eles, ou seja a tradição, APRENDER A APRENDER; APRENDER A FAZER; APRENDER A SER; APRENDER A CONVIVER como propõe a Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura, como pilares para atender aos desafios da atualidade. Mas como?

Um bom começo talvez seja acolher o fato de que além da mente, o homem dispõe de sensações, de sentimentos, de intuição e de espiritualidade, como canais de apreensão e manifestação da realidade.

Em Murumuru, trilhando o “Caminho da Dança”, pudemos chegar ao igarapé; ao artesão que produz sua arte inspirada no silêncio, nas vozes, nas cores e formas do seres que co-habitam o seu quintal; à percepção de  uma arquitetura cabocla construída com as mãos do próprio dono; às lavadeiras que enquanto trabalham naturalmente cantam e dançam com os cacetes para branquear a roupa; ao contato, reconhecimento e maceração  das abundantes ervas amazônicas cheirosas, que após o banho do igarapé,  não só perfumam o corpo, como a alma, conscientizando a necessidade

de preservação desse ambiente e fortalecendo a auto-estima do grupo. E então, revelar novos caminhos, possibilidades de um viver enraizado na própria riqueza do lugar.

Conhecemos de perto as experiências com os encantados, como a de

Natalice. Mota de 20 anos, que logo ao nascer vivia doente e aos dois anos de idade começou a ter visões quando passava pelo Igarapé do Olho D’água, onde os antigos dizem habitar a Mãe D’ Água. “Não teve médico que a curasse  mesmo depois de já ter feito tudo quanto era de exame. Apelei para a benzedeira, desesperada com minha filha só pele e osso, porque sempre dizia pra todo mundo que não acreditava nessas coisas…”  conta Caetana Bentes, 53 anos, mãe de Natalice.

Pois foi exatamente com uma benzedeira que aliás, estava começando o seu trabalho, que a menina voltou a ter saúde física e espiritual. Para a benzedeira a Mãe D’Água queria encantar a menina. “Eu nunca mais desrespeitei os rios e a floresta, hoje sei que tudo tem uma Mãe e que merece respeito”, admite dona Caetana.

A própria Natalice relata que só recentemente começou a tomar banho nesse igarapé. Mesmo assim, não vai sozinha e nem passa por lá  nos  horários “perigosos” que são meio-dia, seis da tarde e meia-noite.

Relatos como esses são inúmeros e atuais, não são apenas histórias

passadas. E na roda de mãos dadas, com o sentimento de confiança que se estabelece no grupo, histórias e mais histórias vêm à tona.

 Afinal, o que é se encantar, se não morrer e renascer com uma outra

atitude perante a vida? E quem é mundiado pelos encantados na Amazônia, sempre retorna (quando retorna), diferente. Passando a respeitar e honrar a natureza, os mais velhos, as crianças, as relações afetivas e de trabalho; os sonhos; as visões, os próprios dons, enfim.

Nessa fase do caminho, estamos disponíveis para construir, colorir e

nomear o nosso barco. O Barco que poderá conduzir a outros rios e

 mares da imaginação – que é o nascedouro de uma nova perspectiva de vida, de idealização de um projeto e que se manifestam assim em verso e prosa:

                Andei, andei

                Por toda cidade

                Encontrei amor

                Encontrei felicidade

                        Claúdia Bentes Mota, 12 anos

                O coração do homem

                Está onde está seu tesouro

                Mas se não souber cuidar

                Tudo vai pro fundo do poço

                Você que é mãe lembre-se

                Que seu exemplo é a lição

                Eduque seu filho

                Que ele terá educação

                        Isamara Costa, 14 anos

“Foi um conteúdo que nós precisávamos mesmo. Estava curiosa e ansiosa para saber o que iria acontecer nesse curso.Agora me sinto outra pessoa com as maravilhas que aprendi sobre a nossa

cultura, sobre a cultura do povo brasileiro”

                                               Andréa Lima, 16 anos

“Foi muito importante resgatar nossas tradições. Temos que valorizar e tentar buscar lá no fundo algo melhor para cada um de nós. Se trabalharmos juntos em busca disso com certeza, vamos conseguir.

Poderia dizer que me sentia uma pessoa vazia, por não saber o quanto é importante valorizar as tradições dos antigos. Agora posso lutar por isso”.

                                        Samara , 16 anos – Comunidade Tiningu

“Me sinto totalmente diferente depois desse trabalho. Agora tenho certeza que consigo e o outros colegas que participaram também vão conseguir, repassar essas danças para a comunidade, para que possa melhorar nosso modo de vida”

                                        Lusiane Campos, 17 anos

“Eu já era apaixonada por dança, mas não essa dança tão objetiva que nos deixa leve, que nos inspira, que nos educa.

 Nós valorizamos muito a cultura dos outros e esquecemos da nossa. Eu sempre fui ligada à música “treme-terra”, como se diz, como se tudo estivesse no seu devido lugar. Participava dos movimentos culturais, mas não me dedicava como deveria.

Agora me considero em condições de poder ajudar minha comunidade e escutar as histórias que minha avó tanto quis me contar e eu nunca quis ouvir. Parece que tudo tem seu tempo”.

                Mariana  Guimarães, 18 anos – Comunidade Bom Jardim

“Ainda não tinha parado para ouvir essas histórias e dançar essas danças de roda,até porque não me interessava em aprender com os mais velhos. Nunca na minha vida, tinha tomado um banho de ervas e eu achei isso muito interessante no curso.

Me sentia como um barco sem comandante. Agora, eu mesma comando meu barco, que vai pra onde eu quiser. E minha vontade é trabalhar com as crianças e jovens, com a presença, claro, dos mais velhos contando sobre as tradições, as culturas e também suas histórias.”

                                Leila Gomes, 19 anos – Comunidade Tiningu

“De acordo com o tempo, a natureza juntamente com as tradições sofrem modificações. O próprio homem é causador dessa situação, mas ficar olhando deixando as coisas boas se acabarem, não!

De mãos dadas, juntos vamos lutar para retomarmos nossas tradições e dar um basta nas poluições e desmatamentos, porque para que haja tradição é preciso ter espaço e esse espaço é a natureza.

Tudo para ser organizado precisa estar em seus devidos lugares. Os sonhos só deixam de ser sonhos, quando se realizam. Portanto, natureza e tradição têm que andar de mãos dadas”.

                                                       Natalice Bentes, 20 anos

“O curso foi rico em diversidade dos povos tradicionais com suas culturas, que trazem uma vontade grande de fazer todo um trabalho de resgate cultural, dentro do nosso quilombo.

Me chamou muita atenção a participação de pessoas de diferentes idades e com o mesmo entusiasmo para aprender as danças circulares; o esforço que cada um fez para dar o melhor de si.

Antes me sentia como todo mundo que ignora sua cultura – com vergonha; relacionando a afro-religiosidade com preconceito – como coisa de quem não tem o que fazer…

Agora, me sinto com muita vontade de chegar no meu quilombo e reunir com as lideranças, para pensarmos numa forma de repassar esses conhecimentos sobre as nossas raízes, para a comunidade.

                Eliana Pinto, 22 anos –  Comunidade Murumurutuba

                Oh sereia do mar

                Traga para nós

                A força do seu Orixá

                Os negros foram escravos

                E também trabalhador

                Por eles terem lutado

                Foram e são grande vencedor

“Já tinha participado de outros cursos, mas com esse minha espiritualidade ficou mais forte. Sinto que minhas forças aumentaram para enfrentar qualquer barreira da vida.

Me chamou muita atenção a forma como a dança, a música, o círculo, ajudam a gente a lidar com o nosso corpo e nossa mente”.

                Joilson dos Santos , 24 anos – Comunidade Bom Jardim

“Tivemos oportunidade de apreciar um riquíssimo material sobre a cultura dos povos das comunidades quilombolas da Amazônia e do Brasil, para colocar em prática em nossa comunidade. Hoje ao final do curso, me sinto com mais energia positiva, do que já tinha antes.”

Rosa Helena, 37 anos

“Me sentia limitada em conhecimento sobre a cultura do nosso povo afro. Agora estou ainda mais interessada em continuar um trabalho que já tinha começado que é pesquisar o passado das pessoas de nossa  comunidade.

Cursos como esse deveriam envolver os professores da comunidade”

                                        Caetana Mota, 53 anos

Saindo de Murumuru na Terra Firme, com a força desses poderosos “barcos”, que me nutriram durante toda a semana, atravesso encorajada, o sedutor Tapajós com suas verdes águas, que se encontram, com o majestoso e misterioso Amazonas, sem jamais se misturarem, porém ora recuando, ora avançando diante da força de cada um.

É com esse cenário que chegamos após uma hora e meia, num lugar onde a maioria dos habitantes é composta de homens, mas leva o nome de mulher, Sara. Uma mulher com poderes que no fundo, no fundo toda mulher traz consigo, o de cura – tão esquecido ou completamente perdido na proporção direta do distanciamento dessa mulher de suas raízes e ancestralidade.

Estamos falando de SARACURA, em homenagem àquela mulher curadora. Uma comunidade na Várzea, às margens do Amazonas, com 145 famílias formadas por pescadores e agricultores, que estão em pleno início de colheita – melancia, milho, banana, feijão de leite e o peixe que se pega e se come do bom e do melhor, na beira mesmo, à moda piracaia, ou seja pesca, limpa, salga, assa e come – Surubim, Cujuba, Pacu, Curimatã, Aracu, Mapará, Tambaqui, Tucunaré, Acarí e por aí afora. Uma fartura que embora encha os olhos de quem chega, para os que lá vivem é só uma mostra do que já foi no passado, por conta da poluição do rio e das terras quilombolas sem titulação, tomadas pelos poderosos fazendeiros.

Mas a influência do ambiente na vida das pessoas é inegável. Em Saracura, as coisas acontecem devagar, aos poucos, de “tiquinho em tiquinho”, como se diz por aqui. O relógio não está no pulso, mas na natureza. E como custa a passar o tempo. Além do fuso horário ser uma hora a menos que Belém, cinco da manhã literalmente já é dia claro, claríssimo e sobra tempo, o dia rende pra tudo o que se quer fazer.

Não é à toa, que temos vivos, lúcidos, atuantes e dançantes, Dona Mocinha de 72 anos, neta de escravos fundadores da comunidade; Dona Conceição de 77 e Seu Tolentino, de 81, como os primeiros inscritos no curso. Dispostos como eles, só vendo… em todas as atividades, inclusive sentados no chão; fazendo posturas de Yoga para alongamento matinal;  cantando até mais alto do que o som, como consegue D. Conceição, com seu incrível alcance de voz contralto; e dançando o Lundum, uma antiga dança de conquista que só as moças e moços faziam, para escolher o/a parceiro/a de vida. Portanto, uma dança que exige movimentos sinuosos, rasteiros e uma desenvoltura, que até os vigorosos jovens pescadores e agricultores do curso, tiveram dificuldade de acompanhá-los. Um exemplo tocante de jovialidade e memória viva.

Na Pátria D´Água, como denomina o poeta amazônida, Thiago de Melo, é preciso se relacionar com a terra, para ajustar essas dimensões da existência que estão entre o criar e realizar. Sendo a água o elemento associado à criatividade por excelência, ainda mais quando é doce e morna, como a do Amazonas, o psiquismo dos nascidos nessa “pátria” é absolutamente fluido.

Embora tenha tradição de oleiros, Saracura perdeu com o tempo, por conta da exploração do barro de ótima qualidade, pelas grandes construtoras, que chegam despudoradamente em seus barcos e balsas levando toda a margem do rio.

Gente que sabia produzir e criar a partir da terra. Tanto que bastou um “passo”, para que as memórias despertassem a partir das Danças, nas mãos dos adolescentes, jovens e mestres do grupo.

Eles sabem onde há barro de boa qualidade, a presença da casa do João de Barro no caminho, confirma e também ensina. Conta seu Tolentino, que o João de Barro, faz a casa para sua fêmea, mas quem quer se apropriar  é o Periquito Santo, que de “santo” não tem nada – quer ficar com a casa e fêmea do João de Barro. Imagina a briga…

De volta à beira do rio, o barro começa a ganhar expressões do imaginário de um grupo formado, por mais da metade de homens. São eles que trazem à tona toda a beleza de seu princípio feminino na forma de chaleira, forno de farinha, mãe d’água, boto, N.Sra. Aparecida e dona Romana, uma forte  referência feminina no passado da comunidade.

Interessante registrar, que N.Sra. Aparecida, nasceu literalmente do boto. Quando Marcos, um rapaz de 17 anos, estava finalizando a escultura de seu garboso boto, num lapso de movimento, caiu no chão e simplesmente se espatifou. Ao juntar o barro, Marcos não sabe explicar como, N.Sra. Aparecida, veio ganhando forma em suas mãos, sem que ele tivesse decidido conscientemente por isso. Vale ressaltar que a padroeira da Amazônia é N.Sra. de Nazaré, estávamos a uma semana das homenagens a ela, numa das maiores procissões do mundo em quantidade de romeiros, o Círio de Nazaré e Marcos só tinha visto uma única vez na N.Sra. Aparecida, num retrato de folhinha e não sabia que estaria sendo homenageada também nos próximo dias.

Fato é que uma outra participante, Marcele Laurindo de 23 anos, conta que tivera um sonho, onde N.Sra. Aparecida, vinha para dizer que ela seria sua protetora. Desde então, ansiava por adquirir uma imagem da santa, mas o dinheiro curto nunca permitiu. E é com grande alegria que vê na obra de Marcos, esculpida com o barro de sua terra natal, a imagem de seus sonhos, simplesmente materializada.

O Baile Circular de encerramento dessa jornada mostra o feminino simbolizado no centro da roda com a escultura de dona Romana, em torno da qual, reúne não só a comunidade, mas em especial representantes da turma de Mururmuru, que num esforço de deslocamento do Planalto até a Várzea, chega quase ao final do dia, como que confirmando a necessidade de união entre Terra e Água – Criação e Manifestação – numa verdadeira celebração de casamento por um novo mundo possível. Afinal, como ensina o verso do Mestre Tó (Tolentino Santos, 81 anos)  “amor que não for firme, não faz mal que vá embora”

                       Joguei meu anel numa pedra

                       Tinha mais de uma hora

                       O amor que não for firme

                       Não faz mal que vá embora

                                               Mestre Tó

        “ As músicas das danças fizeram eu me sentir mais dentro da cultura e da comunidade”.

                                Eu vivo a vida

                                Eu gosto da flor

                                Eu vivo a cultura

                                Com muito amor

                                       Jaina Samara dos Santos, 13 anos

        “ Muitas coisas boas de nossa realidade está aqui na nossa cultura, dentro de nós. Me sentia muito triste sem a experiência de fazer algo pela nossa comunidade. Agora, me sinto feliz de ter aprendido um pouco de cada dança que eu posso passar para meus colegas de aula.Me chamaram atenção as danças que eu nunca tinha visto, nem ouvido falar. Os movimentos físicos, as barquinhas, as artes junto com as danças…”  Gostei muito de sua grande criatividade com a gente. Só falta os jovens de nossa comunidade se juntarem a nós, para ajudar a trazer a nossa realidade”. 

                        Gosto do amor

                        Gosto da paixão

                        Gosto de nossa cultura

                        Que me chamou muita atenção

                                       Glaucirene de Jesus, 14 anos

        “ Me sentia disperso em relação à cultura que temos. Ao ouvir D. Conceição falar do seu passado, vinha a vontade de fazer algumas coisas do que ela fazia, mas não tinha forças para tomar uma iniciativa. Após o curso, me sinto consciente que devo continuar e preservar essa linda e maravilhosa tradição que vem de muitos anos, passando de geração em geração. Tenho certeza que também vamos obter esse conhecimento, aperfeiçoando com a prática. Me chamou atenção o centro da roda como referência e o modo de dançar em círculo, que nos traz união e força para encarar a vida. O modo de você transmitir a dança é forte. Seu trabalho é feito com amor, disposição e sinceridade”.

                                                Marcos José, 17 anos

        “ Nunca dancei tanto, como dancei. Foi maravilhoso! Me sinto realizada a partir deste curso, que facilitará o resgate de nossa cultura negra. O que mais me chamou atenção, foi ver as pessoas felizes e os mestres D. Conceição, D. Mocinha e Seu Tolentino dançando e se sentindo felizes junto com os jovens e adultos…”

                        Se dançar fosse pecado

                        Ninguém seria perdoado

                        O céu estaria vazio

                        E o inferno lotado

                               Aldanita dos Santos, 15 anos

        “ Agora, após o curso, me sinto capaz de fazer qualquer tipo de dança, qualquer trabalho pelo meu quilombo. Acredito que o que aprendi, sou capaz de repassar para qualquer outra pessoa…”

                               Ronisson Pereira Santos, 16 anos

        “ Antes do curso me sentia incapaz de fazer qualquer coisa pela comunidade e agora me sinto capaz. Todas as danças me chamaram atenção e o trabalho com a argila também, que eu não sabia como era e nem que tinha aqui na comunidade. Nunca alguém tinha vindo aqui nos ensinar algo que a gente não sabia que existia, uma cultura que estava escondida de nossos olhos…”

                        Na cultura da Amazônia

                        Encontramos a natureza

                        Para cuidarmos dela

                        Com amor e delicadeza

                               Marcele de Jesus, 23 anos

        “ O que mais me chamou a atenção foi todas as danças serem em roda…”

                                O meu pai é de quilombo

                                Eu também sou quilombola

                                A minha grande cultura e dança

                                Uma grande roda

                               Franciney Oliveira de Jesus, 25 anos

“O que mais chamou atenção no conteúdo é que não trabalhou só as danças, que é uma coisa maravilhosa que nos envolve, mas também a auto-estima, a mente, o corpo, etc.”

                                Participando da oficina

                                Gostei muito de aprender

                                Danças Importantes

                                Nunca vou me esquecer

                                Dancei Dança de Jó e também o Tomiak

                                Vou dançar a Romanela

                                Dança tão linda e tão bela

                                               Josivan Laurindo, 27 anos

        “ Me chamou atenção, a maneira de trabalhar não só com a dança, mas com coisas que nos ligam à dança. Sintoniza a gente com a música, com o ambiente, com o espírito, com o dia-a-dia de cada um”

                                       Ronaldo  de Jesus dos Santos, 27 anos

        A pombinha voou, sentou

        Foi embora e me deixou

        Pombinha quando tu fores

        Me escreve lá do caminho

        Se não tiver papel

        Na asa do passarinho

                        Verso de cantiga de Roda

                        Benedito Abreu, 47 anos,

                        Participante convidado do Município de Almeirim/PA

        Mamãe mandou fazer Mariquinha

        Um brinco pra nós usar

        O brinco era assim zinho, Mariquinha

        A orelha tamanho assim…

                        Verso cantiga de Roda

                        Sábia, Marcionília Oliveira – D. Mocinha, 72 anos

        A Cotia quando dança põe a mão nas cadeiras

        Menina me dê sua mão, vamos dançar a Desfeiteira

        Tocador que toca e pára

        Tem a mão de capivara

        Menina me dê sua mão, vamos dançar a Desfeiteira

                        Dança da Desfeiteira  

                        Sábia , Conceição Oliveira, 77 anos

Peixinho das galha encarnada

Do poço fundo

Como tu quer que eu te ame

Se tu ama todo mundo

                                               Mestre Tolentino Santos, 81 anos

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Relato de experiência vivenciada no Curso de Danças Circulares Sagradas, ministrado por Déa Melo, a convite da Fundação Curro Velho,  com duração de 40 h, entre Setembro e Outubro de 2007, nas comunidades remanescentes de quilombos Murumurutuba e Saracura , no município de Santarém/ Oeste do Pará

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