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PEREGRINAÇÃO VIRTUAL DO SAGRADO FEMININO

Out 05 2016

PEREGRINAÇÃO VIRTUAL DO SAGRADO FEMININO

Para mim, começou com uma amiga distante; quer dizer, meio distante. Geograficamente sim, pessoalmente, nem tanto; nunca nos vimos olho-no-olho, mas virtualmente há três anos; uma das facilitações desta era digital, muito bem aproveitadas. Eis que Rose, chega com uma proposta no mínimo inusitada, para mim e mais duas amigas – Cybelle e Fátima, também “facilitadas digitalmente”, para hospedar por cinco dias os arcanjos – Miguel, Gabriel, Rafael, Uriel e Metatron; e antecipa: é bom preparar minimamente o ambiente, eles têm dia e hora para chegar e obviamente vocês devem estar em casa; e mais, no quinto dia, cada uma precisa garantir outras três residências para que os arcanjos prossigam sua jornada.
Deixa está que a chegada já seria na noite do dia seguinte, portanto, não havia muito tempo para pensar ou imaginar do que se tratava. Mais uma dessas correntezinhas banais que correm frouxo pela internet? Quem são ou o quê são mesmo esses arcanjos?
De fato não entrei no mérito; meu espírito investigativo, decidiu rápido e aceitou prontamente pela simples e excitante oportunidade de experimentar o novo. Cybelle também aceitou e Fátima precisava de um tempo para se organizar e combinamos que ela seria uma das três que receberiam os arcanjos através de mim. É que Rose, na verdade, já tinha outras três pessoas para quem encaminhá-los quando saíssem de sua casa e Cristina, uma das pessoas para quem Rose enviou, foi quem passou para mim e Cybelle.
Vejam que desde o começo essa história estava interessante. Arrumar a casa; estar em casa; garantir outras três hospedagens; receber ou enviar para pessoas conhecidas ou não; convidar e explicar a experiência para alguém, enfim. O que se ganha com isso? A pergunta que não quer calar. Sim, há um bônus bem objetivo; se tem direito a definir três intenções – uma para o planeta, uma para a família e uma para si, além dessas presenças ditas iluminadas durante cinco dias em sua casa. Convenhamos, na realidade trata-se de uma verdadeira “dança” de disposições, aberturas, comunicação e criatividade. Sim, porque é preciso um bom jogo de cintura para ir além do que essa experiência pode sugerir à primeira vista. Só quando nos dispomos de fato, podemos ver o quanto é possível aprender, descobrir e experimentar com o desconhecido, quando confrontamos medos, preconceitos e resistências. Tudo pode ser e acontecer; uma experiência religiosa; mística; imaginária ou criativa. A diferença está no propósito, na intenção que nos motiva.
Logo associei às peregrinações dos santos nas tradições da cultura brasileira. Neste mês de Outubro, por exemplo, temos duas dessas maiores manifestações; o Círio de N.Sra de Nazaré em Belém/Pa e N.Sra. Aparecida em Aperecida/Sp, nas quais o arquétipo da Grande Mãe é reverenciado em sua máxima expressão. Mas neste caso, o “santo” ou “santa” , sem preocupação com o gênero, não pertence a uma tradição religiosa ou cultural específica. Estamos sugerindo o aspecto arquetípico desses símbolos – arcanjos, santos ou deuses; sugerindo as qualidades conscienciais, as múltiplas inteligências, associadas a essas presenças ou imagens e que em última análise estão presentes em todas as pessoas.
Quão longe podemos ir com tudo isso? quantas pessoas podem ser envolvidas e/ou beneficiadas? Não podemos, nem queremos qualificar uma experiência como está com a métrica numérica, mas com a da subjetividade que emerge quando valores, éticas e objetivos de vida são revisitados e geram ações mais pró-ativas no lugar onde habitamos a começar, dentro de nós mesmos.
Nesta “peregrinação do sagrado feminino” o transporte não é a pé, a cavalo ou barco; é mental, é emocional; é virtual e esse poderia ser um mero detalhe, mas não é. A facilidade e a rapidez da interconectividade pode ser altamente cocriativa, quando avançamos do prazer de receber e compartilhar informação, para o prazer de agregar algo novo e transformador no cotidiano; para tomarmos impulsos criativos para um mundo mais estimulante, humanizado, saudável, justo e amoroso. Como ainda podemos imaginar projetos de transformação social, sem incluir nós os profissionais, as lideranças, as
pessoas que almejam um mundo melhor? Eis a questão; e é uma questão sagrada.
Enfim, voltando à pergunta anterior que história é essa de arcanjo? Conta-se desde a antiga Mesopotâmia, que muitos artefatos e documentos comprovam a existência deles como guardiões, citados nas tradições espirituais com diversos nomes e formas, como os únicos capazes de viver entre os dois mundos – o Céu e a Terra. O nome arcanjo vem do grego arkhon – “chefe principal” e angelos – anjo, originalmente “mensageiro”; então podemos dizer que os arcanjps representam ou simbolizam, aqueles que levam as principais mensagens do divino ou do sagrado.
E a palavra “sagrado”? esta vem do latim sacrum; se refere aos deuses ou a alguma coisa em seu poder; e o conceito, se relaciona com o estado de santidade ou divindade; com devoção; e utilizado também para fins de introspecção e para lugares reverenciados por fatos históricos, espirituais ou culturais dos povos. É o caso das danças circulares ou danças tradicionais dos povos, também conhecidas como Danças Circulares Sagradas, Isto porque uma infinidade de símbolos presentes em suas histórias, músicas, cantos,
ritmos e movimentos, geram estados de bem estar, de harmonia e de consciência em que as pratica. Dito isto, sugiro que todos esses movimentos “dançantes” são possíveis também em torno dessa vivência com os arcanjos. É a dança interior, do sutil, capaz de nos realinhar, despertando e comunicando respostas honestas e não apenas adequadas, à jornada da vida individual e coletiva. A “peregrinação virtual do sagrado feminino” é um caminho, high-tech e ao mesmo tempo tradicional de volta pra “casa”.
E se eu não tiver três pessoas para passar depois? E se o vizinho achar estranho eu abrir a porta tamanha dez e meia da noite? E se as pessoas da minha casa também estranharem uma vela acesa, uma flor, uma maçã arrumadas simbolicamente para ajudar na conexão com os tais arcanjos? E se por outo lado, eu confiar que de alguma forma essas três pessoas vão aparecer? O desenho rabiscado de uma espiral, revela uma rede de conexões tão simples quanto amplas; as cores, os movimentos indicam conexões
diretas, indiretas e até inimagináveis de pessoas espalhadas pelo Brasil e até fora, só a partir do movimento de doze pessoas conhecidas entre si É assim que funciona, na base da abertura, da flexibilidade, da boa vontade em experimentar e de uma boa dose de humor.
Uma experiência que ressignifica as relações com a espiritualidade, independentemente de religiões; com as redes sociais virtuais, quando superficiais, vazias de significado, desumanizadoras e incapacitantes. Talvez seja uma das formas mais simples e radicais de utilizar as tecnologias, para as mu-danças que queremos ver no mundo. É bem do princípio feminino, receptivo, discreto, silencioso, mas de um poder destemido e desmedido, porque se revela de dentro para fora, quando estamos imbuídos de comunicar nossa singularidade, nossa verdade para e no mundo.
Bem, esse papo ficou mais cumprido do que eu imaginava, mas vale contar só mais uma história ótima, entre algumas que tive oportunidade escutar nas últimas duas semanas. É a de um marido, quando a menos de três horas da chegada dos ilustres hóspedes é avisado pela esposa, que precisariam hospedar naquela noite “cinco arcanjos”; ele deitado relaxadamente até então, dá um pulo e com os olhos regalados pergunta, “mas como? hoje? Onde eles vão ficar? Depois de um ataque de riso, amorosamente a esposa explica.
Foi só a deixa, para que ele, pouco ou nada familiarizado com esse tipo de experiência fosse incluído; tanto que no dia seguinte pergunta: “Ei Mônica, tu convidaste eles para sentarem e almoçar com a gente”? Bem, não precisa contar que só por este clima a dois, já valeu a hospedagem, não? Alguém mais se habilita?

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